segunda-feira

Sobre o glúten, a fibromialgia e quando a gente não dá muita bola pra isso

Quem tem fibromialgia sabe que é normal passar alguns períodos com menos  dor e outros de crise, com muito mais dor. Desde minha última crise cismei que queria entender a causa da crise. Eu sabia que eu havia sofrido uma severa mudança na alimentação, aumentando muito a quantidade de glúten, eu sabia que eu estava bebendo menos água assim como fazendo menos exercícios. Se você digita no Google "glúten fibromialgia" você encontra páginas e mais páginas falando da relação entre essas duas variáveis.

 
   Foto: Carlo Scherer

Além de estar em crise de fibromialgia eu também estava muito inchada, sentindo dores abdominais fortes. Resolvi, então, parar de comer glúten. A primeira semana é super difícil, eu fiquei com uma vontade enorme de comer doces para compensar a ausência do glúten, mas com o tempo o corpo vai se acostumando. E aos poucos a crise de fibromialgia foi diminuindo, pouco a pouco eu estava sentindo menos dores e cheguei até a diminuir a dosagem do cymbalta. Por um tempo eu havia me esquecido o que era ter fibromialgia (exceto, é claro, pelos remédios que eu tinha que tomar todos os dias). Mas então eu comecei a abrir concessões em relação ao glúten, o famoso "só hoje", e logo voltei aos poucos a comer glúten. O problema do "só hoje" é que a gente não nota que o "só hoje" acaba se tornando todo dia e de repente a concessão se torna norma. Acho que eu não teria percebido isso se uma coisa ruim não tivesse acontecido: voltei a sentir dor de fibromialgia. Aquela dor ruim de não querer arrumar uma cama porque o braço dói, ou caminhar porque as pernas estão muito fracas. Às vezes a gente só percebe que melhorou quando piora de novo. Eu já tinha escrito sobre isso nesse post aqui. Mas pouca gente deu atenção para ele. Eu acho que vale a pena evitar o glúten, porque a melhora é gritante, pelo menos comigo foi assim.

quarta-feira

Sobre os planos que não fazemos mais

Agora que o tempo está melhor fui fazer um picnic com uns novos amigos na beira do rio. Não sei como o assunto surgiu, mas um deles disse que ele e sua esposa não comemoravam mais datas festivas como aniversário, natal, etc. Perguntei desde quando, ele me respondeu: desde 2005. E então senti um nó na garganta ao me recordar que no último encontro ele havia contado que tivera câncer naquele ano. Passou por tratamentos incômodos e, junto com o apoio da esposa, superaram as dificuldades.

Antes disso eu tinha notado e me agradava o modo como ela me ouvia e me deixava à vontade para compartilhar questões sobre a fibromialgia com ela, que sempre se mostrava tão receptiva e parecia me compreender, como se ela tivesse uma empatia. Quando seu marido me contou da enfermidade que tivera eu entendi porque ela lidava com doenças de uma maneira diferente de como as pessoas que nunca tiveram contato com uma doença lidam. Tem gente que não sabe lidar com doenças, essa amiga me disse que vários amigos se afastaram deles durante o tratamento do câncer e eu noto que algumas pessoas não sabem como lidar com o fato de que eu tenho fibromialgia. Tem gente que sequer tem paciência para andar um pouco mais devagar quando estou com eles.

Eu não quero comparar câncer com fibromialgia, longe disso. Fibromialgia não mata, câncer sim, e esse meu amigo ficou muito próximo da morte. Mas o que me chamou a atenção foi o fato de eles decidirem não celebrarem nada com o advento da doença. Faria eu a mesma coisa, ainda que inconscientemente?

Imagem: Isobel

Não, mas eu faço algo similar; desde que a fibromialgia se instalou eu parei de fazer planos. Terminei aos trancos e barrancos meu mestrado e depois disso adiei para a eternidade quaisquer planos que tinha feito antes. Tudo ficava para depois porque o instante era a dor. Que sentido há em fazer planos quando você mal consegue cortar um queijo porque o seu braço dói? Mas então vem a melhora e de repente você para e vê que 3, 5, 6 anos se passaram e você não seguiu nenhum plano. Você apenas sobreviveu. Isso é triste demais. Isso pode ser bem mais triste do que não comemorar a virada de ano. E então, quando você melhora, surge a ânsia de encontrar um sentido para a sua vida, traçar um plano, fazer algo de bom. O que dá sentido para a sua vida?

Obs: Conversando com essa amiga, em um momento eu falava sobre fibromialgia e logo eu estava me autocensurando, eu dizia, mas, ah, o que é a fibromialgia perto da dureza de um câncer? Ela, com delicadeza e sinceridade me disse, "É, eu já conversei com meu marido sobre isso e não sei o que é pior, uma doença intensa, oito meses de tratamentos agressivos, mas que vão passar, ou uma dor que te perturba pelo resto de sua vida?"