quinta-feira

Psicanálise

Faz uma semana que estou com dificuldades para dormir. Isso não é casual, já que começou o horário de verão. Mas acho que meu corpo está exagerando. Eu não consigo dormir. Eu não tenho vontade de comer. Sinto-me avolitiva. Nas últimas duas semanas fiquei doente. Primeiro torci sério o pé, o que me exigiu ficar cinco dias sem nadar. Depois, explodi no trabalho e no dia seguinte acordei sem voz e com a garganta inflamanda. Três dias sem voz. Acho que eu falei mais do que eu devia naquela reunião. Acho que sou muito transparente, por isso tenho medo de ser demitida às vezes. Tenho tanto medo de tanta coisa. A empresa vai mudar de lugar físico. Fui conhecer o prédio, não tem janelas na sala onde trabalharei. Imediatamente taquicardia e sensação de angústia somada a uma respiração mais lenta. Claustrofobia. Contei para o meu chefe. Não há solução. A sala será aquela e ponto. Mas acho que se eu não conseguir lidar com essa fobia terei que mudar de emprego. Como me sinto humilhada e minimizada ao pensar nisso! Pensar em mudar de emprego porque eu tenho medo de lugares fechados?

Mas, na minha opinião, um medo não é só um medo, quando fobia. No meu caso, é mais um sintoma de um trauma. A última seção de terapia foi justamente para eu aceitar para mim mesma que sim, tive um trauma e isso influenciou notadamente a minha vida e as minhas ações. Mas, diante disso, fica a pergunta: e o que eu faço com isso? Ter consciência de um trauma não faz com que ele automaticamente desapareça. Diz minha analisata que terei que falar muito sobre isso ainda, até esgotarem as palavras. Mas eu quase paralizo ao pensar em falar. Não foi nada demais, eu penso, porque isso gerou um trauma tão forte, eu penso. Por quê? Por quê? O filme do Hitchcock me fez aceitar que tenho um trauma e ponto. O filme Marnie. Ela tinha o mesmo trauma que eu, de não querer ser tocada de forma alguma. Claro que as causas são diferentes, mas caiu a minnha ficha. Eu tenho que aceitar que vivenciei uma experiência que me traumatizou e isso reflete em minha vida até hoje. Mas encarar o passado é tão doloroso.

Sobre o amor

Acho que no fim tudo se resume ao amor. Ao amor que a gente doa e espera receber de volta. Como dizia Heidegger, o cuidado (sorge). Viver em sociedade é necessariamente viver com o outro. Mas algumas vezes optamos por viver para o outro. O para assume, aqui, o sentido de doação. O gostar, o se preocupar, e as diversas formas que o termo cuidado, ou amar assumem. É fácil, quando gostamos, cuidarmos do outro? O problema é que algumas vezes nós nos esquecemos de cuidarmos de nós mesmos, nos abandonamos, nos matamos pouco a pouco, pedacinho por pedacinho. É muito importante cuidar do outro, mas nunca devemos nos esquecer de cuidarmos de nós mesmos. A lição do outro é que nós não devemos nos abandonarmos jamais. E às vezes decidimos nos escondermos no sorge pelo outro. Mas para bem cuidar é preciso, antes, ser cuidado.

O desamparo é o sentimento consequente do excesso de sorge por um outro que não te reconhece como alguém a ser lembrado. Mas quem colocou a impressão de necessidade da lembrança fomos nós ao criarmos expectativas e ao esperarmos algum sorge em troca. O amor tem que ser doado como um pedaço de pão. Ele será comido e deixará como vestígio no mágimo algumas migalhas. Mas não devemos procurar por elas. Ao doar sorge você não deve esperar nada em troca.