domingo

Tristeza

Passei duas semanas chorando, seja interiormente, seja fisicamente. Chorei no carro, no trabalho, em frente ao pc, em frente ao meu chefe. O menor problema no trabalho fez-me despencar em lágrimas, como se tivessem aberto uma torneirinha e perdido a chave para fechá-la. Parecem lágrimas de anos atrás. Lágrimas que há muito deixei de chorar, engoli seco, engoli sorrindo, mas triste. Toda vez que engolimos seco, uma hora isso ressurge, às vezes em momentos horríveis, como no trabalho. Mas no fim o que a gente quer é carinho, é o Sorge do qual Heidegger fala: o cuidado.

Não consigo explicar racionalmente essa tristeza que me acompanha há três semanas. Simplesmente não consigo. Mas um fato interessante é que não senti dor. Parece que a dor se esvaía a cada lágrima. Chorar faz bem para a fibromialgia. É preciso chorar, é preciso liberar tudo aquilo que te aflige, porque caso contrário, toda dor reprimida se convertirá em dor física, bem sabemos.

segunda-feira

Desbafo

Desde o dia 04 estou sentindo dores além do 'normal' - se é que se pode afirmar que sentir dor possa ser algo normal. Ontem, na viagem de visita ao meu avó pelo dia dos pais, na volta ligaram o ar condicionado do carro. E doía cada vez mais na minha coluna. E por mais que tivessem desligado o ar, a dor não melhorou, e fiquei ali, segurando para não chorar, me controlando, respirando lentamente enquanto o meu pai reclamava do quão quente estava o carro. Desde que essa crise começou eu tenho sentido dores principalmente nas pernas e na coluna e notadamente atrás do joelho direito. Me parece que essa dor atrás do joelho - a mesma que me faz mancar quando ando muito - não é uma dor típica de fibromialgia. Mas hoje acordei com dor na coluna e nesse momento meu braço direito dói demasiado, como se estivessem dando vários nós lá dentro.

sábado

Uma indicação de site

Uma pessoa visitou esse site com o link para o dela o site se chama "Yo tube Fibromialgia", traduzido para o português fica "Eu tive Fibromialgia". Fiquei interessada, não apenas pela relação com a fibromialgia, mas também pelo uso do verbo no passado. Tive é pretérito perfeito, uma ação terminada em algum momento do passado. Imaginar isso é bonito, ouvir que alguém já teve fibromialgia - e não tem mais - é ainda melhor. Um trechinho do blog para degustação (tradução minha):

"Essa é a parte fundamental em um PROCESSO: Identificar as coisas, os fatos que te afetam na vida cotidiana e depois conectar com a sua origem emocional para, a partir disso, fazer desconectar a relação entre a dor e a 'flor branca'"

"Esta es la parte fundamental en un PROCESO: Identificar los cosas, los hechos que afectan en la vida diaria y después conectar con el origen emocional para desde ahí hacer la desconexión entre el dolor y la “flor blanca”. 

Clique aqui para ir ao blog

 http://yotuvefibromialgia.blogspot.com/

Dor que vai e volta

Recomeço a sentir dor. "Dor não é amargura" já dizia a poeta Adélia Prado. Será? Que espécie de dor é essa que não é amargura? A fibromialgia faz a dor ir e voltar e geralmente quando penso que estou quase ótima, começo a caminhar feliz e cada vez mais rápido, eis que volta a dor. Retorno com uma dor embaixo do joelho quando caminho. Comecei, em busca de melhora, caminhar do metrô até o lugar onde trabalho, o que dá, aproximadamente, com o meu ritmo de passos, 20 min de caminhada. Mas eis que começo a sentir dor ao caminhar, mas me parece uma dor diferente da da fibromialgia. Ontem voltei mancando. E nesse momento, meu braço direito dói ao digitar. Apenas um desabafo.

Foto por: Rega Photography

domingo

Eis que retornam e me levam à lição anterior

Por que eu me forço a fazer coisas que eu não estou com vontade de fazer?

Por que eu só me lembro de não me cobrar tanto quando tenho crises de dor?

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Curioso como a única razão que me leva a escrever aqui (ou quase a única) são as crises de dor ou alguma reclamação de algo relacionado à fibromialgia. Neste inicío do ano - apesar de um grande desagrado com a minha profissão devido à excessiva preocupação com lucros de minha chefe superior, a moça do financeiro da escola, que passou meus alunos que haviam tomado bomba - eu estava melhorando significativamente da dor. Em janeiro eu nadava duas vezes na semana entre 1000 e 1200 m. Média boa para quem começou nadando com esforço 200m.

Mas parece que a melhora me trouxe a piora. Parar de sentir dor fez voltar em mim a síndrome do tudo posso, tudo consigo, segundo a qual o limite é o cansaço. Me explico: preenchi minha agenda de modo impressionante e a consequência natural foram o cansaço excessivo e o estresse. Junto a eles, as dores começam a voltar até porque preencher a minha agenda com trabalhos e tarefas me fez não conseguir deixar separado um espaço para a natação.

Ontem pela primeira vez fui ao hospital por causa da dor. Horas na fila de urgência para conseguir uma maravilhosa injeção para dor. Doiam-me inclusive as falanges, as articulações, só não me doiam as unhas porque unha é parte morta do corpo.  Resultado: hora de retornar à lição outrora aprendida:

DEIXAR DE SE COBRAR TANTO.
DEIXAR DE ESPERAR TANTO.


Foto: Chris Parker 


sábado

Sobre dor e trabalho

No último mês vivi um período de melhora significativa. Lyrica,  Paroxetina com dose diminuída e o novo remédio para substituir o Paroxetina, já que pedi à médica um remédio que não me fizesse engordar, o Venlafaxina. Fiz pouco esforço físico nas férias; por questões financeiras não viajei, fiquei tranquila, saí com amigos, cerveja, tudo na normalidade. Eis que retornam as atividades do ano. Eu sou professora de ensino fundamental e médio. Quinta-feira, 6 horários direto, ao fim do expediente minhas pernas já estavam doces.
Teacher at Chalkboard, foto por cybrarian77

Hoje, sábado, já percebo como o retorno às atividades trouxe consigo um retorno à dor. Não que eu seja uma preguiçosa que sempre que precisa trabalhar sente dor. O problema é que a atividade de professor do ensino fundamental e médio exige esforço físico: escrever no quadro de giz, caminhar pela sala, subir e descer escadas a cada mudança de horário. Pode parecer batata para uma pessoa que não sofre de fibromialgia. O problema é que quando você sente dor cada detalhe vira uma tempestade. Escrever no quadro a giz exige força nos braços. Ficar em pé horas e horas exige esforço das pernas e da coluna. E a consequência deste esforço para quem sofre não apenas dor mas também fraqueza muscular é óbvia: mais dor.


segunda-feira

Sobre dor e comida

Após um tempo de melhora significativa, muito tempo sem dor, as questões que anteriormente me pareciam irrisórias perto da dor que eu sentia voltam como pontos expressivos.

Me explico: Quando uma pessoa sente dor, é provável que ela não se preocupe com nada mais além da dor. Quando a dor melhora, tudo aquilo que ela não via, como aumento de peso, diminuição da libido, ansiedade constante, volta a ser visto como algo de relevo na vida daquela pessoa, ou seja, de mim mesma.

Não sinto mais tanta dor, graças à conjunção Lyrica, Paroxetina e natação. Mas engordei 3 kg. Sendo que eu já havia engordado 4kg desde o início da fibromialgia. As roupas não servem mais, isso gera um desconforto tamanho. Por que engordei? A resposta me parece simples. No princípio, antes do diagnóstico da enfermidade, as dores me impediam de seguir com o mesmo ritmo de exercícios. Depois, com o aumento da dor, a diminuição do sono reparador e a consequente depressão, houve ausência completa de vontade de realizar quaisquer exercícios. A primeira série de remédios receitados, amitriptilina e ciclobenzaprina não resolviam, de modo que cada vez que sentia muita dor eu tentava compensar aquele sofrimento com um prazer - efêmero, mas um prazer: a comida. Comia para me esquecer da dor.

Foto: DixieBelleCupcakeCafe