terça-feira

Sobre dores e privilégios -inacabados

Quando a dor aflige às vezes me vejo voltando a outrora. Quando era sã, tanto física quanto mentalmente. Quando eu não me preocupava com o preço dos remédios que tomo. E são muitos. Se reclamo do tanto de remedios que estou tomando, minha mãe logo me censura. "Agradeça que existem remédios para isso" e eu concluo mentalmente "agradeço que minha mãe pode gastar meio salário mínimo com remédios para mim". Se ganho um salário mínimo, se eu não tivesse apoio dela meus ganhos seriam para remédios e moradia. Não sobraria muito para nada mais. Mas reconheço, então, que sou privilegiada, e, na verdade, sempre fui. A última terapeuta que abandonei me fez pensar no quão privilegiada e acomodada estou. O lugar da mente suicida pede, a todo momento, ajuda, e muita gente fica temerosa de dizer não. Pensamentos suicidas e baixa resistência à frustração, o que vem antes, o ovo ou a galinha? O que é ser privilegiado no mundo de hoje?

segunda-feira

Fibromialgia, digestão e somatização I

Há alguns meses comecei a escrever para tentar me encontrar. Para conseguir digerir a comida. A cada dia eu era capaz de digerir menos, chegava a pensar que ao final eu acabaria morrendo por falta de alimentação. Eu não sei qual é a relação entre sintomas do corpo e as (des)ordens mentais. Não sei até que ponto o ser humano é capaz de somatizar e creio que nunca chegarei perto disso porque nunca me interessei muito pelo estudo da biologia humana. Fato é que a escrita sempre foi minha forma de ancoragem com o mundo.
Imagem: Hey Paul Studios

Sempre escrevi, desde pequena; sempre gostei de imaginar histórias e situações, buscar no rosto das pessoas alguma resposta para as dúvidas que eu mesma criava sobre elas. Era como brincar de casinha, mas de um modo muito mais interessante e plástico. A escrita acompanhou-me por toda a minha vida como um elo com o mundo. Muitas vezes, como muitos, quis escapar dele, mas a escrita sempre me salvava.

No entanto, já faz alguns meses que resolvi cavucar profundo em mim para entender o que me impossibilitava de seguir em frente, mas que eu nunca sabia direito o que era. A resposta foi dolorosa e as consequências nada agradáveis para mim: adoeci, parei de escrever e não consegui mais assinar meu antigo nome.
Comecei a negar meu ser.
Paralisada, por meses a fio fiquei sem conseguir ler um único trecho literário. As letras me faziam fugir para o outro lado. Eu precisava fugir para não me encontrar. Paralisei. Descoberta a enfermidade causada, vieram os fortes remédios. A princípio a médica receitou-me um que de nada servia, fibromialgia, e as dores continuavam. Logo me disseram, essa dor não existe, vá logo a um psiquiatra e eu fui.
Sempre hesitei em ir a um psiquiatra, temia a habilidade da Medicina de buscar consertar as pessoas por meio de pílulas coloridas. Mas naquele momento tudo que eu sabia é que eu não aguentava mais não conseguir andar. Cedi à tarja negra.
Funcionou

Tanya / Flickr
como um paliativo. O ansiolítico servia-me apenas para aceitar melhor a dor, acostumar-me com ela. Percebi esse efeito nos dias em que me esquecia de tomar o remédio, acordava desesperadamente triste e a dor se fazia insuportável como nunca antes. De volta à reumatologista, ela decidiu retirar o tarja negra e eu suspirei aliviada.
No entanto, todos já estavam acostumados ao meu estado atônito-impassível-imperturbável. Como é possível que uma mera tira negra em uma caixa consiga transformar seres em humanos impressionantemente dóceis e maleáveis. Sentia-me um ser-ameba, moldável, ajustável a qualquer situação.
A reação à retirada do tarja negra foi a esperada, todos me preferiam dopada: fica mais fácil conviver com uma pessoa assim. E diziam que o outro remédio, tarja vermelha com retenção da receita, me deixava mais nervosa que o normal. E eis-me de um extremo ao outro.
Fato é que eu não consegui, até hoje, voltar a escrever e a assinar meu nome. Minha identidade está perdida entre tarjas coloridas de farmácia.

terça-feira

Doença, culpa e vergonha

Uns dos sentimentos que sempre aparecem na mente de uma pessoa com dor crônica é a culpa. Muitas vezes não percebemos que estamos nos culpando em inúmeras situações da nossa vida. O sintoma disso é que pedimos desculpas demais. Queremos ser perfeitos, queremos agradar a todos e quando não conseguimos fazê-lo, pedimos desculpas.

Mas nos esquecemos que não somos perfeitos, que jamais conseguiremos agradar a todos. Portanto não precisamos pedir desculpas pelas nossas imperfeições, nem nos culparmos. Retirarmos de nós mesmos o sentimento de culpa é um caminho para libertação e para a felicidade e consequente melhoria das dores.

Não devemos nos sentir culpados pela doença que algumas vezes no paralisa. Quantas vezes nos justificamos diante de alguma situação que requer um maior esforço físico... Eu sempre falo: "Me desculpe, mas meu braço é fraco", "Me desculpe, eu tenho uma doença...", "Me desculpe, tenho uma condição,..." "...uma incapacidade...". Não temos nenhuma obrigação de explicar nada disso quando dissemos que não. Não é rude. Você simplesmente não precisa se justificar.

Já faz três meses que sempre que vou ao centro da cidade (moro longe) preciso pegar o ônibus até uma estação e então subir várias escadas para ter acesso ao metrô. Em dias que estou bem as escadas não são um problema. Mas quando estou sentindo dor, sim. Vários foram os dias nos quais eu sentia muita dor, mas olhei com tristeza para o elevador e me dirigi às escadas porque eu não sabia o que falar ao operador pelo microfone ao pedir que liberasse a caixinha mágica. Eu via pessoas com cadeira de rodas, muletas, carrinhos de bebê usando o elevador. Mas eu tinha vergonha de pedir para usar porque afinal, eu pareço tão saudável. Eu tinha vontade de explicar para o moço "olha, eu tenho uma doença crônica que faz com que eu sinta dor, por isso, por mais que não pareça, eu estou sentindo dor e minhas pernas estão bem fracas."

Imagem: Christopher Neugebauer / Flickr

Mas faz sentido termos vergonha de nossa condição? Eu tenho vergonha de sentir dor? Você tem vergonha de precisar usar o elevador? Quem é que está nos julgando? O nosso pior juiz somos nós mesmos. Nós precisamos parar de nos julgar tanto e nos perdoamos pelo que quer que seja. Nos perdoar não significa pararmos de fazermos sempre uma autoanálise, tentando nos tornarmos pessoas melhores. Mas precisamos ser menos rígidos conosco. Mais amor para nós mesmos, por favor.

Imagem: Uuuuu uuuuuya / Flickr

Ontem eu estava sentindo dor na perna. Apertei o botão e falei para o operador "Por favor, eu preciso usar o elevador". Imediatamente ele liberou.

sábado

Receita sem glúten: Pão de tapioca de frigideira

Eu já escrevi aqui sobre como eu sinto uma relação forte entre a ingestão de glúten e as dores da fibromialgia. Quando parei de comer glúten passei a sentir menos dores e mais leve. O uso de vários anti inflamatórios me deixou com um estômago meio fresco, ficando difícil me alimentar, já que só de pensar em gordura eu já sentia náusea. Ouvi falar do pão de queijo de frigideira e resolvi olhar as receitas. Todas tinham ovo, e eu não me sinto bem ainda para comer ovo. Resolvi tentar fazer minha própria receita e, para minha surpresa, deu certo! Compartilho com vocês a receita:

aprox. 1/2 xícara de polvilho
aprox. 120 ml de leite
2 colheres de sopa de azeite
3 colheres de sopa de queijo cottage (acho que com outro queijo deve dar certo também, escolhi o cottage porque tem menos gordura)
sal a gosto.

Ferva o leite com o azeite. Jogue essa mistura aos poucos no polvilho e vá mexendo. Quando estiver quase líquido coloque o sal e o queijo e misture. Coloque em uma frigideira antiaderente bem quente. Espere firmar a parte de baixo. Repita do outro lado.

Você pode colocar temperos, alho, gergelim, o que quiser na massa pronta, é só misturar.

Fica assim o pão de tapioca. 

Essa foi a primeira tentativa, com farinha de arroz, que peguei por engano. Não gostei muito não. 

quinta-feira

Auto medicação

Muita gente que tem dor crônica se habitua a se automedicar. Automedicação é algo perigoso, mas a gente só está preocupado com uma coisa: diminuir a dor. Vamos colecionando anti inflamatórios, relaxantes musculares, pomadas de cânfora, opioides, chás, etc. Começamos obedecendo as recomendações médicas, com cada medicamento no seu devido horário e na sua devida quantidade. Porém, dez dias depois, a dor ainda não foi embora. Então começa-se a tomar, além dos medicamentos receitados pelo dr., tylenol tantas vezes por dia, ou aumenta a dose do ciclobenzaprina. E inúmeros efeitos colaterais começam a surgir. Seu intestino só funciona uma vez por semana, de manhã cedo você é um ser-ameba, suas mãos começam a tremer, sua visão parece um pouco mais embaçada. É hora, então, de voltar ao médico. Quando ele pergunta se você tomou os remédios corretamente você balança a cabeça. Quando ele te questiona se você está tomando mais algum medicamento vem o sorriso amarelo. "Aumentei o relaxante muscular porque estava sentindo muita dor, como passei a sentir sono de manhã, perdi o sono à noite, tive que tomar um calmante, tive uma crise e tomei tylenol, ou ibuprofeno tantas vezes por dia, mas daí meu intestino não funcionava mais, tomei um laxante natural" e por aí vai. Há pessoas que confiam em seu médico, e preferem perguntar antes de inserir novos medicamentos na lista diária. Outros, no entanto, teimosos, só aprendem quando a situação fica deplorável. Foi o que aconteceu comigo.


Imagem: Sparky

Eu estava bem, até ter uma situação emocional complicada que me tirou do equilíbrio. Vieram as dores e eu comecei a tentar de tudo. Anti inflamatórios, relaxantes musculares, fora os medicamentos naturais. Mas de repente eu acordo e não consigo mais comer. Só de pensar em comer sinto náuseas e faço um suco de couve com banana e laranja e acabo vomitando. Com o tempo vou conseguindo comer menos coisas, maçã, sushi, pêssego, limão, amêndoas, abacate, algas. E então preciso ir ao médico, até porque, algumas semanas nessa "dieta", já emagreci uns 5 quilos e estou anêmica. Chega a hora do sorriso amarelo e a dra. respira fundo e me explica que esses medicamentos anti inflamatórios e relaxantes musculares são péssimos para o estômago, que eu teria que parar de tomá-los. Balanço a cabeça. Eu fico impressionada com esses médicos que sabem que nós somos pessoas minimamente esclarecidas, mas que assim mesmo escolhemos fazer essas bobagens. Agora já perdi 8 kg. Antes eu queria mesmo perder uns quilinhos. Mas agora eu só quero ser capaz de comer a feijoada que está no freezer. E a médica mesma falou comigo, vou fazer um teste de gravidez em você. Eu disse que daria negativo. E deu negativo. Essa mistureba de remédios fez muito mal para o meu sistema digestivo. Então, se conselho serve para algo, não se auto medique. As consequências podem ser desastrosas.

sexta-feira

Tentativa terapêutica

Como já contei aqui, estou fazendo amizade com uma moça que tem dor crônica, mas continua fazendo inúmeras atividades da sua vida. Isso me fez pensar sobre meu posicionamento em relação à doença.

Quando estou sentindo muita dor, fico deitada na cama e espero a dor passar (às vezes não passa) ou durmo. Quando vejo uma escada, busco logo o elevador. Mas na última vez que fui a uma médica por causa dessas dores ela me disse, olha, se você estiver sentindo dores extremas, tudo bem, pode deitar, mas se for uma dor de nível médio, mova-se! Assim, comecei a mudar meus hábitos. Quando estou com dor média, mas com dificuldade de concentrar para ler ou trabalhar, eu vou lavar as vasilhas, limpar a casa. Comecei a fazer caminhadas com o cãozinho da vizinha. No primeiro dia fiz um esforço bem grande para caminhar, já que era uma subida aqui perto de casa. Mas hoje já é prazeroso caminhar. Eu acho que vale a pena tentar.

Eu posso escolher deixar de fazer todas as tarefas domésticas porque não tenho força no braço. Mas posso escolher, ao invés de parar, fazer aquilo que dou conta, cada dia mais e mais. Posso escolher ficar prostrada na cama, envolta em minha dor, mas posso escolher também pegar agulhas e lãs e fazer toquinhas para doar a bebês, ou ir a um asilo conversar com idosos, ou ir passear com os cães do abrigo de cães. Mas para isso a gente precisa começar. Sair do modo potência (que engloba tudo aquilo que podemos ser) e ir para o modo ato.

Foto: Gareth Williams

terça-feira

Lítio e ciclobenzaprina


Apenas como registro. Tenho a impressão que a ciclobenzaprina aumenta os níveis de Lítio no sangue.

Imagem: Amayzun
Desde a última crise de fibromialgia voltei a tomar ciclobenzaprina, o que, naturalmente, ajudou com a dor. Mas com o tempo comecei a sentir frequentes enjoos, náuseas, não conseguia comer várias comidas que eu estava acostumada, tonturas, dor de cabeça e tremores no corpo que iam cada vez me incomodando mais. Na noite retrasada eu troquei os remédios da noite pelo remédio da tireoide que tomo de manhã. A primeira coisa que pensei foi, ah, não! Mas logo vi que minhas mãos tremiam menos. Hoje é o segundo dia sem ciclobenzaprina e minhas mãos tremem quase nada, apesar de eu ter voltado a sentir dores no corpo. Mas acho que prefiro isso às náuseas e tonturas que eu estava sentindo. E se você está cogitando outra possibilidade, não, fiz o teste, não é gravidez.

Imagem: Fdecomite
Pesquisando em um site do Canadá, está relatado que pode haver efeitos colaterais entre o lítio e a ciclobenzaprina, então, cuidado! Não vale a pena tentar, as reações são muito ruins.
---
There may be an interaction between lithium carbonate and any of the following:
  • ACE inhibitors (e.g., enalapril, ramipril)
  • acetazolamide
  • alfuzosin
  • amiodarone
  • angiotensin II receptor blockers (e.g., irbesartan, losartan)
  • antipsychotics (e.g., chlorpromazine, clozapine, haloperidol, olanzapine, quetiapine, risperidone)
  • bromocriptine
  • buspirone
  • cabergoline
  • calcitonin
  • calcium polystyrene sulfonate
  • carbamazepine
  • chloroquine
  • cisapride
  • crizotinib
  • cyclobenzaprine
  • degarelix
  • desmopressin
  • desvenlafaxine
  • dextromethorphan
  • diltiazem
  • disopyramide
  • diuretics (water pills; e.g., furosemide, hydrochlorothiazide, triamterene)
  • dofetilide
  • eplerenone
  • ergot alkaloids (e.g., ergotamine, dihydroergotamine)
  • flecainide
  • fluconazole
  • iodide salts (e.g., iodine, potassium iodide)
  • macrolide antibiotics (e.g., clarithromycin, erythromycin)
  • methyldopa
  • metoclopramide
  • mifepristone
  • NSAIDs (e.g., celecoxib, naproxen, ibuprofen)
  • mirtazapine
  • monoamine oxidase inhibitors (MAOIs; e.g., moclobemide, phenelzine, rasagiline, selegiline, tranylcypromine)
  • phenytoin
  • procainamide
  • quinidine
  • quinine
  • quinolone antibiotics (e.g., ciprofloxacin, norfloxacin, ofloxacin)
  • rilpivirine
  • romidepsin
  • St. John's wort
  • saquinivir
  • selective serotonin reuptake inhibitors (SSRIs; e.g., citalopram, duloxetine, fluoxetine, paroxetine, sertraline)
  • serotonin antagonists (anti-emetic medications; e.g., granisetron, ondansetron)
  • sodium bicarbonate
  • sodium chloride
  • sodium polystyrene sulfonate
  • sotalol
  • tapentadol
  • tetrabenazine
  • theophyllines (e.g., aminophylline, oxtriphylline, theophylline)
  • topiramate
  • tramadol
  • trazodone
  • tricyclic antidepressants (e.g., amitriptyline, clomipramine, nortriptyline)
  • "triptan" migraine medications (e.g., eletriptan, sumatriptan)
  • tryptophan
  • venlafaxine
  • verapamil

segunda-feira

Os sentimentos e a fibromialgia

Tenho ido todo mês a um grupo de pessoas com fibromialgia. Ali conheci uma moça da minha idade, mas que me fez pensar no modo como eu lido com a fibromialgia.Um dia ela sofreu um acidente de carro e começou a sentir as dores da fibromialgia. Isso a obrigou a aceitar que ela não seria mais capaz de fazer tudo. Ao invés de limpar a casa, contratou uma faxineira uma vez por semana. Como não conseguia lavar vasilhas, comprou uma lava-louças, mas não parou de trabalhar. Todos os dias, oito horas por dia, tenha dor ou não tenha dor, lá estava ela, ralando.

Pensando nisso me lembrei do primeiro atendimento fraterno que tive na busca de lidar com a fibromialgia. Ela me dizia duas coisas essenciais: você precisa trabalhar e cuidado com os seus pensamentos, sua doença não está no seu corpo. Na época eu não entendi porque ela me disse isso. Eu já trabalhava e tinha certeza que a fibromialgia estava no meu corpo, afinal, eu sentia dores. Ela me disse: "A melhor solução para o desespero é o trabalho". Eu estava mesmo desesperada de dor e de tristeza, mas ainda não entendia, que trabalho era esse, já que a minha carteira de trabalho estava muito bem assinada. Mas naquela época eu só fazia trabalhar. Eu acordava, mecanicamente me vestia e pegava o metrô, fazia minhas tarefas no trabalho bem rapidamente e quando voltava para casa dava comida e um afago na minha cachorrinha e ia dormir. Às vezes eu tinha forças para tomar um banho, (ou quando meu cabelo estava demasiado oleoso para ir trabalhar no dia seguinte).

Eu estava deprimida. E provavelmente muitas e muitos de vocês que estão lendo isso também ficaram deprimidos por causa das dores. Mas é importante refletir sobre os fatores desencadeantes para o começo da fibromialgia em sua vida; quando você começou a sentir dor?: foi depois de um acidente de carro? Uma lembrança de uma situação que você fez de tudo para esquecer? Foi uma série de bullyings que você viveu? Foi a morte repentina de um ente querido? O desaparecimento de uma pessoa amada?

Pense, pense em tudo aquilo que te incomoda no mais profundo do seu ser. E TRABALHE nesse sentimento, seja ele mágoa, culpa, arrependimento, tristeza, insatisfação, ressentimento, ira, seja qual for o sentimento, trabalhe-o, e tente mudá-lo. Os sentimentos nos adoecem. É claro que a doença está no nosso corpo, mas também não custa refletir sobre nossos sentimentos e tentar alterá-los para sentimentos melhores. Isso só nos fará bem. É difícil fazer esse trabalho com nossos pensamentos e sentimentos, mas vale a pena. Tem me ajudado, definitivamente tenho sentido menos dor, ainda que eu não tenha conseguido retirar os remédios. Pelo menos eu consigo viver lembrando só às vezes que tenho fibromialgia.
Imagem: June Yarham

sexta-feira

A fibromialgia e o efeito placebo

Comecei a ler um pouco sobe Bioética. A Ética, ramo da Filosofia, busca pensar sobre a seguinte questão: "Como devemos agir?". A Ética se divide em várias ramificações, cada uma delas pensa essa pergunta a partir de um determinado contexto, por exemplo, "Como devemos agir em relação à Inteligência Artificial?", "Como devemos agir no que tange à forma como o governo lida com a distribuição e propagação das informações disponibilizadas na Internet?". Outras perguntas do campo da Ética são: "Como podemos ser felizes?". A Bioética circunscreve a pergunta "Como devemos agir" aos campos das Ciências da Saúde, Ciências Biológicas e Direito. Aborto, inseminação artificial, eutanásia, clonagem, são exemplos de assuntos muito estudados na Bioética.

Mas o que isso tem a ver com a fibromialgia? Bom, quem tem fibromialgia e reflete sobre sua própria condição pode ter chegado a se perguntar sobre a questão do placebo. Quando descobri que eu estava com fibromialgia, essa palavra não fazia muito parte do meu cotidiano, eu sequer havia pensado sobre ela, até porque não sou da área de biológicas. Mas em uma época na qual eu estava sentindo muita dor fui ao meu reumatologista e lhe perguntei se havia alguma vitamina ou medicina natural que poderia minimizar as dores que eu estava sentindo. Meu médico é também um pesquisador, em outros termos, um cientista, e ele me disse, "Olha, eu não receito vitaminas, mas minha esposa, que é ginecologista, as receita sempre. Eu acho que é uma questão de acreditar.". Essa é a base da ideia do placebo: você toma algo que não foi cientificamente comprovado como eficaz para a sua doença, mas você acredita que aquilo lhe fará bem. E de fato o faz.

Imagem: Bruce Aldridge

Estudos recentes mostram que isso não é meramente psicológico, mas tem efeitos neuronais atuando no seu cérebro. Então se você se consulta há anos com um médico homeopata e confia nele, confia que aquela medicina vai lhe ajudar, isso aumenta o trabalho dos medicamentos no seu corpo. Tenho pensado muito sobre isso porque em tempos de crise eu tento de tudo, vitaminas, suplementos, chás, sementes, mantas com campo magnético, acupressão. Pensar sobre o efeito placebo desses modos de tratamento não é negar que eles tenham uma eficácia fisiológica, ainda que não comprovada, mas pensar que um remédio começa a ser eficaz porque você já acredita e confia em seu médico. Se você vai a um médico que não confia, por exemplo, isso pode ter um efeito negativo no efeito do remédio no seu corpo, ou seja, ele pode funcionar menos do que em outra pessoa que confia naquele médico.

Por exemplo, eu fiquei meses sem sentir dor fazendo uso de tipo um lençol que cria campos magnéticos. Mas no momento em que resolvi comprar essa manta, não me importava se a ciência provava ou não seus efeitos. Eu só queria sentir menos dor. Por outro lado, eu tenho uma amiga que também sofre de dor crônica, mas que não acredita em medicina alternativa, ela chega a ter medo de seus efeitos não estudados. E possivelmente para ela nenhum desses medicamentos alternativos faria efeito, porque o efeito placebo seria nulo nela. Se ela ousasse tomar algum remédio não alopático para a dor, achando que não fosse funcionar, se ele funcionasse creio que poderíamos pensar que de fato ele é bom. Mas, por outro lado, eu, que acredito que tudo pode melhorar minha dor, acabo sendo mais beneficiada pois minha crença atua nas minhas redes neuronais, fazendo com que eu me sinta melhor.

Vou escrever mais sobre isso em breve. Em resumo: é importante que você confie no seu médico, é importante que você acredite no tratamento que está fazendo, para que os efeitos sejam mais rápidos.

Suco de couve e abacate

Ficar tomando todo dia o mesmo suco enjoa, né? Então tentei uma receita de suco de couve e abacate e gostei muito.

Imagem: Ross Berleig


1 xícara de abacate
1 xícara de couve
1 limão espremido
1 ou 2 colheres de sopa de açúcar
250 a 500 ml de água

Bata tudo!

Imagem: Stacy Spensley


Email sobre fibromialgia

Me escreveram pedindo dicas para lidar com a fibromialgia. Acho que esse email pode ser útil para mais alguém, por isso o copio aqui. E lembrando que sempre que quiser pode me escrever, se quiser compartilhar sua história no blog, etc. Meu email é doralice.e.os.dias@gmail.com.

Posso te contar um pouco da minha experiência com a fibromialgia, mas te conto como paciente e não como médica, ok, já que não sou da área da saúde. A primeira coisa que eu sugiro é ela começar a ir a um psicólogo ou terapeuta para tentar se compreender melhor e ver se encontra algum trauma ou algum momento difícil da vida dela que possa ter desencadeado a fibromialgia.  No meu caso,  por exemplo, foi ao me lembrar, anos depois, de uma situação difícil que eu vivera aos 8 anos de idade. Eu me lembrei e comecei a ter problemas digestivos e não consegui caminhar mais, tamanha era a dor. Eu dizia para mim mesma que eu não queria mais seguir em frente,  por isso essa dor que me paralisava. Mas há pessoas que começam a ter fibromialgia após um grave trauma físico, como um acidente de carro. 
Feito isso, é bacana ela cuidar da alimentação. Uma dieta sem glúten me ajuda bastante, assim como comer muita folha verde escura. O suco de couve é famoso como bebida que ajuda, tem uma receita no blog. A cúrcuma é muito indicada na medicina ayurvédica, mas como eu enjoei comer comida com muita cúrcuma, passei a tomar em cápsulas. O chá de semente de sucupira também é famoso, apesar do gosto muito ruim, eu tomo misturado a um suco, existe em cápsulas, mas nunca provei. Outra medicina alternativa que as pessoas usam muito -eu não uso porque meu seguro não cobre- é a acupuntura, mas só uma vez não, pelo menos um mês. 
Sugiro que ela não tente tudo de uma vez, senão não vai dar para saber o que ajudou e o que não ajudou. E vá me dando notícias! 
Abraço e melhoras!





domingo

Quando não podemos trabalhar

Hoje, sentindo muita dor na perna direita, resolvi tomar nota de um pensamento, quando me deparo com um esboço do dia 10.02.16:

Eu me sinto culpada em semanas de dores como essa, na qual minha produtividade cai significativamente. Eu perdi duas aulas nessa semana e não consegui ler os textos. Começava a ler na mesa, logo minha lombar doía, então eu ia para a cama e meus braços doíam de segurar o leitor de ebooks e de repente eu já estava dormindo e resmungando de dores. Quando acordava sentia-me absolutamente culpada por ter perdido mais uma manhã em minha vida. E penso: como quero fazer um doutorado se eu não consigo ficar acordada de manhã para ler um artigo?
Toda vez que entro em crises assim fico adiando a ida ao médico e me auto medicando com o que eu tenho em casa. Eu sei que não deveria me auto medicar, mas desanimo de pensar em ir ao médico para ele falar que com o tempo vai passar e me receitar meia dúzia de ibuprofenos que posso comprar sem receita. Mas a esperança é a última que morre. Vou tentar ir ao médico hoje e quem sabe ele tenha uma ideia brilhante para diminuir a minha dor.

Imagem: Mike Licht


quarta-feira

Suco de couve saboroso

Receita:
Uma mão cheia de couve picada (sem a parte grossa do meio)
Uma laranja descascada e picada (deixe a parte branca)
Suco de meio limão
Meia banana grande picada
250 ml de chá de capim cidreira concentrado (ou água)

Bata tudo no liquidificador.
Se quiser adicione açúcar.

Eu gosto do sabor amargo da laranja, por isso descasquei no dia anterior e a parte branca deixa um sabor amargo quando deixada de um dia para o outro. Caso não goste, descasque na hora mesmo. Caso não goste do sabor da casca branca de forma alguma, pode retirá-la, mas lembre-se de que ela é muito boa para a digestão.

Dizem que o suco de couve é muito bom para amenizar os sintomas da fibromialgia. Comecei a tentar agora. De qualquer forma, é uma boa opção para começar o dia.
Foto: Liliana Fuchs



segunda-feira

Carta para mim ou refletindo sobre a depressão

Essa carta escrevi para mim mesma em junho de 2009. Eu estava prestes a terminar uma etapa em minha vida e ser diagnosticada com depressão e fibromialgia. As palavras ainda me tocam; ainda há muito a ser mudado na minha vida. 


Querida Doralice

Essa carta eu escrevo para você, para o primeiro lado de mim com o qual eu luto tanto. Escrevo para te lembrar da leveza e da vontade de viver que eu tenho guardadas comigo; um sutil detalhe do entardecer, um sorriso de um amigo, a frescura de uma cerveja na segunda-feira à noite, a sempre presente possibilidade de mudar os planos. Te escrevo para te lembrar de como você gosta de coisas pequenas, pequenos detalhes gastronômicos, pequenas demonstrações de afeto, pequenos papéis espalhados pelo quarto, pequenos lembretes na agenda, pequenas idéias inacabadas. Te escrevo para te dizer que eu sou a parte de você que tem ânsia de terminar o começado, de ver as coisas concluídas, de fazer tudo bem-feito e trabalhar sempre com um certa ideia de medida. Eu sou o seu lado tranquilo, que consegue sorrir ao receber um bolo, que busca entender o outro lado, que busca a paz e a harmonia, que quer a felicidade e a leveza. Eu sou a parte de ti que acredita na vida, que gosta de cantar, dançar e cozinhar, que quer escrever um livro, que quer entender a diferença genérica entre conto e micro-conto, que sente saudades, mas quer finalizar os processos. Eu sou a parte de ti que fica brava quando você não se levanta ao soar o despertador, que fica mal humorada quando você acorda tarde, perdendo assim a metade do dia. Eu sou a parte de você que é contraditória, que quer a perfeição, o melhor, o melhor. Eu te machuco, eu sei. Essa ânsia não apenas de terminar, mas terminar bem, dentro de padrões elevados de qualidade te destroem, eu acho. Porque você prefere não fazer a fazer mal-feito. Eu tenho que mudar para você querer acordar de manhã, eu tenho que aceitar que as coisas ficam assim, dentro da possibilidade, que não serão perfeitas. Mas eu realmente gostaria de te pedir que não parasse no meio mais uma vez. Eu sei da sua vontade de pegar um avião e voltar para casa, cavar uma fossa e se afundar lá dentro. Eu sei que você queria conseguir um emprego qualquer para poder viver sem ter que pensar, sem ter que tentar fazer o melhor. Eu sei que você não liga de ficar na fila do meio, no meio do muro, usar a metade da folha. Eu queria ver o fim do livro, o fim do caderno, ler a conclusão do texto. Eu queria fazer as coisas, levantar, viver. E você fica buscando se matar pouco a pouco. Eu queria que você parasse com esse hábito de te causar pequenas mortes. Eu queria que você me deixasse viver, me libertasse desse medo do futuro. Eu odeio quando você paralisa. Fica horas e horas fazendo nada, absolutamente nada de especial, nada de útil, nada. Preferiria que você estivesse a tomar uma cerveja ou passeando ou viajando, mas não, você fica dentro do quarto, de janela e porta fechadas maquinando a sua próxima morte. Eu queria que você parasse com isso, por favor. Eu queria saber porque na nossa disputa você tem vencido ultimamente. Ultimamente é tão amplo, eu estou falando de meses. Eu queria saber como faço para te vencer, eu quero viver, eu quero terminar as coisas que começam, eu quero parar de me matar cada semana. Eu quero me permitir pequenos sorrisos e pequenas felicidades. Eu queria que você gostasse mais de mim, acho que é isso. Porque o fato de você me boicotar tanto deve ser porque você não gosta de mim. Por que você não gosta de mim? O que eu fiz para você me tratar tão mal? Eu fico tentando fazer as coisas direitinho e você fica me impedindo de viver. Por quê? Ah... se você me deixasse eu ia viver tranquilamente, ah, você podia me aceitar como eu sou, parar de me julgar tanto. Por que você me maltrata assim? Ei, levante daí e me responda? Hoje eu vou ganhar, você vai ver.  

Sobre dores e canetas

Hoje senti dor durante o dia. Tentei comprar uma mochila de natação pela Internet, mas não consegui. Eu fico com essas ilusões de que eu vou comprar uma mochila, um palmar ou uma prancha nova e isso vai mudar a minha vida, que eu vou virar uma atleta. Mas infelizmente no fundo eu sei que isso não vai acontecer, não por ora. Hoje mesmo eu queria ter ido nadar mas minhas pernas doíam tanto que acabei em casa, dormindo. Os meus braços também estão doendo, por isso escrevo devagar, deveria ter escolhido uma caneta mais leve. Aliás, ganhei da universidade uma caneta Cross de formatura, mas nunca pude usá-la por mais de 3 min, de pesada que ela é. Nunca pensei que o peso de uma caneta poderia ser um problema para mim. E essa fraqueza toda me levará a publicar esse texto só amanhã, porque eu não vou ligar o PC, digitar, etc. Hoje não, amanhã talvez.
Imagem: Andrea Joseph