Agora que o tempo está melhor fui fazer um picnic com uns novos amigos na beira do rio. Não sei como o assunto surgiu, mas um deles disse que ele e sua esposa não comemoravam mais datas festivas como aniversário, natal, etc. Perguntei desde quando, ele me respondeu: desde 2005. E então senti um nó na garganta ao me recordar que no último encontro ele havia contado que tivera câncer naquele ano. Passou por tratamentos incômodos e, junto com o apoio da esposa, superaram as dificuldades.
Antes disso eu tinha notado e me agradava o modo como ela me ouvia e me deixava à vontade para compartilhar questões sobre a fibromialgia com ela, que sempre se mostrava tão receptiva e parecia me compreender, como se ela tivesse uma empatia. Quando seu marido me contou da enfermidade que tivera eu entendi porque ela lidava com doenças de uma maneira diferente de como as pessoas que nunca tiveram contato com uma doença lidam. Tem gente que não sabe lidar com doenças, essa amiga me disse que vários amigos se afastaram deles durante o tratamento do câncer e eu noto que algumas pessoas não sabem como lidar com o fato de que eu tenho fibromialgia. Tem gente que sequer tem paciência para andar um pouco mais devagar quando estou com eles.
Eu não quero comparar câncer com fibromialgia, longe disso. Fibromialgia não mata, câncer sim, e esse meu amigo ficou muito próximo da morte. Mas o que me chamou a atenção foi o fato de eles decidirem não celebrarem nada com o advento da doença. Faria eu a mesma coisa, ainda que inconscientemente?

Não, mas eu faço algo similar; desde que a fibromialgia se instalou eu parei de fazer planos. Terminei aos trancos e barrancos meu mestrado e depois disso adiei para a eternidade quaisquer planos que tinha feito antes. Tudo ficava para depois porque o instante era a dor. Que sentido há em fazer planos quando você mal consegue cortar um queijo porque o seu braço dói? Mas então vem a melhora e de repente você para e vê que 3, 5, 6 anos se passaram e você não seguiu nenhum plano. Você apenas sobreviveu. Isso é triste demais. Isso pode ser bem mais triste do que não comemorar a virada de ano. E então, quando você melhora, surge a ânsia de encontrar um sentido para a sua vida, traçar um plano, fazer algo de bom. O que dá sentido para a sua vida?
Obs: Conversando com essa amiga, em um momento eu falava sobre fibromialgia e logo eu estava me autocensurando, eu dizia, mas, ah, o que é a fibromialgia perto da dureza de um câncer? Ela, com delicadeza e sinceridade me disse, "É, eu já conversei com meu marido sobre isso e não sei o que é pior, uma doença intensa, oito meses de tratamentos agressivos, mas que vão passar, ou uma dor que te perturba pelo resto de sua vida?"